Artigo 6 – Dezembro
As emoções são o tema deste último artigo de 2023. E escrevo sobre as emoções pelo interesse e impacto que esta área me despertou quando comecei a estudar Macrobiótica.
A palavra terá origem no latim e-movere que significa “e – para fora” e “movere – mover”. É algo que acontece em nós e que nos provoca uma re-acção, um movimento, uma mudança.
As emoções são parte de nós, definem a forma como actuamos, agimos, perante uma situação, de forma, aparentemente, involuntária. Com o tempo podemos entendê-las, interpretá-las e ter a capacidade de as controlar. Esse controlo permite ganharmos equilíbrio emocional, físico e espiritual.
Numa visão Macrobiótica, as emoções têm um papel importante e estão associadas às 5 Estações do Ano. Estudar, pesquisar e analisar, as emoções, dentro deste conceito, deste estilo de vida, aumenta a consciência de um canal importantíssimo para construir o caminho; o caminho individual. E isto faz todo o sentido pois, esta filosofia de vida, vem (re)lembrar a importância de olharmos para as nossas emoções, dar-lhes um nome, saber aceitá-las e equilibrá-las. Sejam elas boas ou menos boas, que alimentem ou drenem energia, sejamos nós crianças, jovens, adultos… O lugar e a função que desempenham são fundamentais no desenvolvimento e no crescimento humano.
O medo, a segurança ou o afecto, por exemplo, são emoções que existem instintivamente e fazem parte de nós, desde que nascemos. Outras emoções, adquirimos ao longo da vida, consoante o meio cultural/social, em que estamos inseridos, por exemplo; ou através de experiências, trazendo consciência, para conseguir verbalizar e partilhar, e ferramentas para saber lidar e vivenciar.
O impacto das emoções, no nosso corpo, desencadeia mecanismos ao nível celular, comprometendo o sangue, os órgãos, o físico e o psicológico. Esses mecanismos, levam à libertação de hormonas, tais como, adrenalina, serotonina ou dopamina, para citar algumas. Por sua vez, a libertação destas hormonas, leva a alterações fisiológicas, físicas e psíquicas. Quando, por um lado, são naturalmente desencadeadas, não há consequências, preocupantes ou alarmantes, no organismo; quando, por outro lado, existe impacto no organismo – uma alteração abrupta, grave ou prolongada/crónica – as complicações podem tornar-se fisiopatológicas.
Neste contexto da Macrobiótica, o desequilíbrio emocional leva à perturbação da energia vital (energia Qi), energia interna do organismo. Com desequilíbrios, a capacidade de re-acção, de movimento, fica comprometida. Torna-se incapacitante encontrar uma forma sensata, coerente, de lidar, controlar, equilibrar, aceitar ou verbalizar, essas emoções.
A meu ver as emoções moldam-nos e acrescentam muito à vida, à sociedade, à família, aos amigos, etc, sendo definidas, não só pelos relacionamentos, como, também, pelo ambiente envolvente. Isto porque somos feitos de ciclos, nós; quem nos rodeia; o que nos rodeia; a cada dia, a cada ano, a cada estação.
É importante conhecermo-nos através das emoções e é importante entender estes ciclos da Natureza, uma vez que, a partir desse ponto, poderá ser mais perceptível o que nos “move de dentro para fora” (e-fora, externo + movere-mover, movimento).
Como escreveu Natália Rodrigues, no seu livro, “Cozinhar com a Natália – Cure corpo e emoções com o poder dos alimentos”:
“As nossas emoções são um diálogo entre nós e o nosso corpo. Ao compreendermos como tudo isto funciona, torna-se mais claro como funcionamos. E ao descobrir como funcionamos, torna-se mais fácil recuperar de qualquer “avaria”.”
Assim, ao longo das 5 Estações do Ano, podemos associar 7 Emoções, (além de pares de órgãos, de cores, de sabores, etc), são elas: a tristeza e a melancolia (Outono); o medo e o susto (Inverno), a raiva (Primavera), a alegria (Verão) e a preocupação – outros autores podem identificar a reflexão – (Verão Tardio). Assim, há espaço ao diálogo e à consciência interiores, entre nós e o nosso corpo, logo, o entendimento e a aceitação deste “fenómeno”, tão interessante, único e bonito.
Entre o tempo mais quente, no Verão, e o tempo mais frio, no Inverno, há uma dinâmica entre a alegria e o medo, passando pela raiva, na Primavera. Depois do Verão temos a preocupação, no Verão Tardio, e a tristeza, no Outono. E não se encerra o ciclo, pois, a seguir à tristeza do Outono, somos confrontados, novamente, pelo medo, no Inverno…e assim segue mais um ciclo…
É nesta consciência, observando e permitindo viver este ciclo natural, que nos permitimos a entender melhor o que nos influencia positivamente, negativamente, o que temos de trabalhar mais amiúde, em nós, ou trabalhar com o outro, com um amigo, com um familiar ou um colega de trabalho.
Afinal de contas somos um todo! E as emoções são parte desse todo!
Agora façam uma auto-análise emocional:
Já tinham despertado para estes estados emocionais?
Fazendo uma retrospectiva de 2023, conseguem identificar, pelo menos, 3 ou 4 emoções, das quais tenham a plena consciência de ter experienciado/sentido?
A ou as emoções que identificaram foram mencionadas neste texto?
Em que contexto as vivenciaram?
E como se sentem neste período do Inverno?
Ganhar consciência das emoções ajuda a ter uma abertura mais simples, mais segura, mais relaxada, da realidade e da vida.
Nos próximos artigos iremos explorar cada uma das emoções, integradas nas estações do ano!
Crónica Ana Reis