Artigo 18
Sente-se o Inverno cada vez mais presente.
Sente-se esse Inverno lá fora e dentro de nós mesmos.
A época mais yin do ano, aos poucos, está a crescer no seu sentido oposto, yang.
Os dias já começaram a aumentar desde meados de Dezembro. Apesar desta ligeira mudança energética o frio ainda se faz sentir.
O frio traz a necessidade de abrandar, aquecer mais o interior e recolher para não dispersar e dissipar a energia essencial.
A energia centra-se e deverá estar reunida no núcleo – quietude, serenidade, hibernação.
A hibernação, no Inverno, é muito comum entre os animais e os seres-humanos deviam ter mais em conta este estádio do ciclo da vida. A hibernação permite conservar, interiorizar e contemplar a paz interior. Permite cuidar e nutrir os órgãos vitais, particularmente, os rins/bexiga e os órgãos reprodutores.
Com o tempo frio o sangue torna-se menos fluído e não chega da mesma forma às extremidades do corpo – mãos e pés. Deste modo, centrar energia através do recolhimento e do consumo de alimentos que aqueçam (e que não arrefeçam) é fundamental.
Esta passagem entre estações percepciona-se se estiver atento às emoções, aos pensamentos, às questões que na mente vão ganhando espaço. Para essa atenção há que ter tempo, há que parar para as “ouvir”.
A tristeza vai, agora, dando lugar ao medo.
A tristeza, que, fazendo par com a alegria, abria espaço para o desenvolvimento e crescimento interiores, no Outono, convida o medo, juntamente com a coragem, a conquistarem terreno. É no medo que se avança, nutrindo, alimentando, a nossa melhor versão.
Não ter medo de crescer, de abraçar novos desafios, é importante para o bem-estar interior – seja qual for a área de desenvolvimento pessoal.
O medo, emoção da estação do Inverno, associado ao par de órgãos rins/bexiga e órgãos reprodutores, tem um grande impacto nas decisões, na capacidade de ultrapassar e conquistar o que faz sentido na e para a vida. O medo permite avançar numa determinada direcção. Esse avançar, esse movimento com um determinado foco, irá ganhar expressão na estação seguinte; estação essa, mais amena, propícia a acção.
Os rins, são um órgão muito importante que determinam o fluxo, a vitalidade e que potenciam a energia vital. São o símbolo da energia Jing, a energia que rege o organismo a um nível mais profundo. Os rins regem e orientam a energia ao nível da constituição individual, uma vez que são o legado ancestral que proporcionou e gerou vida – daí a conexão desta energia com os órgãos reprodutores.
O calendário pelo qual nos orientamos é o gregoriano – um calendário solar, que não contempla, não incluí, as fases da lua. Conhecer estes dois sistemas permite entender e compreender melhor as transicções de estação, por exemplo, tais como os equinócios (Primavera em Março/Outono em Setembro) ou solstícios (Verão em Junho e Inverno em Dezembro).
O Ano Novo, que será na passagem de Dezembro para Janeiro não representa, “propriamente uma passagem” pois não existe uma transição de estação de ano. Não há grandes alterações ou mudanças nesta fase do ano, principalmente, na Natureza, no meio que nos rodeia.
Esse sentimento de mudança, associada à Passagem do Ano, como “Ano Novo, Vida Nova” é algo que foi crescendo culturalmente, que não combina, em certa medida, com o meio envolvente – e não me interpretem mal, é apenas uma análise e partilha, de um outro ponto de vista, do qual tenho vindo a reflectir, também.
Na realidade, essa mudança – acompanhando a dinâmica do planeta que habitamos, só se irá percepcionar mais à frente, a partir de início/meados de Fevereiro.
Irei dar continuidade a este tema do Inverno, no próximo artigo, contextualizando a passagem que, em simbiose com o meio que nos rodeia, se celebra há muitos anos. A passagem das trevas – a escuridão que se associa ao Inverno – para o renascer – a luz que indica o (re)nascer com a vinda da Primavera!
Aproveito para finalizar com um poema de Anne Bradstreet, uma poetisa inglesa do século XVII:
Se não tivéssemos Inverno, a Primavera não seria tão agradável: se não experimentássemos algumas vezes o sabor da adversidade, a prosperidade não seria tão bem-vinda.
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal