Nestes artigos sobre alimentação da XIS que tenho o grato privilégio de escrever, tenho dado uma abordagem alimentar essencialmente analítica: falo dos alimentos segundo um ponto de vista nutricional – proteínas, hidratos de carbono, vitaminas, efeitos do açúcar e produtos químicos no organismo, etc.
O método analítico, mais focalizado, sendo a forma mais comum como nós, ocidentais, estudamos o Mundo à nossa volta, não é no entanto o único método possível para avaliar um fenómeno. Os orientais, mais dados à observação do todo e à contemplação, com mais tendência para ver toda a floresta e não só uma árvore da mesma, desenvolveram ao longo dos séculos um outro sistema de estudo e avaliação, um sistema que considera todo o universo em mudança, a inter-relação entre todos os fenómenos, gerida por duas forças a que chamaram yin e yang.
Consideram por exemplo que um organismo não é um factor isolado, mas que é influenciado por, literalmente, todo o Universo. Assim, em muitos países do Mundo as esquadras de polícia têm mais polícias de serviço durante as noites de lua cheia, porque se sabe que neste período do mês há mais crimes, acidentes de automóveis e entradas nas emergências dos hospitais. Para a filosofia oriental, isto sucede porque a Lua Cheia tem um efeito mais yang, contractivo, sobre as espécies vegetais e animais, criando mais movimento, calor, acção.
Yin e Yang são os dois pólos primários da criação e em conjunto geram e gerem todos os fenómenos. A força yin é centrífuga, dispersa, mais leve, mais fria, a força yang é centrípeta, mais pesada, mais quente (ver tabela).
Mas, nesta altura do artigo deve estar a perguntar a si mesmo(a), “que tem tudo isto a ver com a saúde ou a alimentação”? Bem, uma vez que yin e yang influenciam todos os fenómenos, influenciam também os alimentos que ingerimos; assim sendo, os alimentos mais yang criam uma atitude mais yang – mais activa, mais dinâmica, mais extrovertida, enquanto que os alimentos mais yin criam uma atitude mais gentil, mais reflectida, mais estética. No entanto, alimentos excessivamente yang contribuem para um carácter mais agressivo, impaciente e dominador enquanto que alimentos mais yin produzem uma natureza mais depressiva, inerte e dependente.
Quais são então os alimentos mais yang e os mais yin? De que forma os devemos utilizar?
Os alimentos no extremo yang da tabela são por exemplo ovos, carne, queijo duro, alimentos fumados, etc., os alimentos no extremo yin da tabela são drogas, açúcar, refrigerantes, frutos tropicais, leite, etc.; o que acontece é que quando comemos alimentos muito yang somos automaticamente atraídos para alimentos mais yin e vice-versa de forma a criarmos um equilíbrio dinâmico, da mesma forma que quando ingerimos muito sal nos apetece beber mais.
Na nossa alimentação diária o ideal é utilizarmos como alimentos principais, alimentos mais centrais, mais equilibrados (que também são classificados segundo as suas características yin e yang), que contribuem para melhor nos adaptarmos ao ambiente circundante e criarmos um carácter mais “equilibrado”.
Esta lista contém os alimentos que constituem uma alimentação saudável:
YANG
Sal marinho integral
Cereais integrais como arroz integral, massas, flocos de aveia, cuscuz, etc.
Leguminosas
Raízes
Vegetais verdes de rama
Tofu
Oleaginosas e sementes
Fruta
Líquidos
YIN
Lista de alimentos menos saudáveis que representam mais extremos de yin e yang:
YANG
Carne,
Ovos
Frango
Queijos duros
Queijos macios
Manteiga
Leite
Iogurte
Alimentos açucarados
Refrigerantes
YIN
Eu estudo esta filosofia há mais de 20 anos e ainda hoje me surpreendo com a sua sabedoria e extraordinária eficácia. Se soubermos utilizar yin e yang no dia a dia temos a capacidade para conscientemente escolhermos se desejamos ser mais activos ou mais calmos, mais sérios ou divertidos, mais físicos ou mentais, alterando essencialmente a nossa alimentação, actividade física e estilo de vida.
Uma vez que o meu espaço nesta rubrica está praticamente esgotado, sobre isso escreverei no próximo artigo.
YIN YANG – 2ª PARTE
No artigo anterior escrevi sobre as forças a que os chineses chamaram de yin e yang (na nossa linguagem ocidental não existe uma tradução adequada para estes nomes), forças essas que são complementares e opostas – yin não pode existir sem yang e vice-versa – e que governam o mundo relativo em que vivemos.
Uma vez que o âmbito destes artigos tem a ver com alimentação e saúde, expliquei um pouco sobre como estas “energias” operam ao nível dos alimentos e referi que podemos utilizar este conhecimento para ter um maior controle sobre as nossas vidas.
Esta semana vou tentar explicar como nos podemos tornar mais yin ou mais yang, escolhendo os alimentos, métodos culinários e actividade física.
É importante considerar que yin e yang são termos relativos e que consequentemente não existe nenhum fenómeno exclusivamente yin ou exclusivamente yang, não existe ninguém exclusivamente yin ou yang, todos nós somos uma combinação das duas forças.
Para além disso há que considerar a diferença que existe entre a nossa constituição de base (aspectos da nossa estrutura física e mental que nos são dados durante o período embrionário e primeiros anos de vida e que dificilmente são alteráveis) e a nossa condição (que muda todos os dias de acordo com a nossa alimentação e estilo de vida).
Assim, é relativamente fácil mudar a depressão matinal ou o mau humor crónico, mas mais difícil de alterar o sermos muito bons ou muito maus em desporto, por exemplo.
No que toca à personalidade, uma personalidade mais yang é activa, dinâmica, focalizada, boa com detalhes, rápida, precisa, interessada na ciência, boa com números e matemática, assertiva, proactiva.
Uma personalidade mais yin é criativa, artística, sensível, flexível, aberta, solícita, tolerante, descontraída, imaginativa, paciente, gentil, pacífica.
Imagine agora que se sente inactivo, letárgico, sem qualquer iniciativa e dependente do que os outros dizem. Está mais yin ou mais yang?
A resposta é mais yin e quase de certeza que na sua alimentação está a exagerar no consumo de alimentos como açúcar, doces em geral, álcool, café, frutos tropicais, entre outros (ver artigo anterior).
Se se sente como um furacão, força a sua opinião nos outros, não consegue descontrair, acha que tem sempre razão, está mais yang e anda a abusar de produtos animais (carne e ovos em particular), sal, alimentos secos e muito cozinhados, etc. (uma vez mais, leia por favor o artigo anterior).
Claro que a maioria das pessoas come alimentos nas duas categorias mas existe sempre uma tendência para cada um favorecer o lado yin ou yang da tabela.
No que toca a sintomas físicos, o excesso de yin durante muito tempo conduz a sintomas como sentir-se esgotado, ser mais susceptível a doenças infecciosas, sentir mais frio, ter dificuldade em levantar-se de manhã, retenção de líquidos, dores de cabeça à frente, diarreia, má circulação.
A longo prazo, excesso de yang produz tensão muscular, rigidez das articulações, dores de cabeça atrás, insónia e dificuldade em descontrair, dureza do abdómen, prisão de ventre, artérias entupidas.
Penso que agora já lhe é um pouco mais fácil avaliar a sua condição actual; assim sendo se acha que está mais yin e quer sentir-se melhor deve começar a reduzir os alimentos mais yin e começar a ingerir alimentos yang de boa qualidade; se sente que está mais yang ou deseja ficar mais yin deve fazer o oposto.
Para além dos alimentos, os métodos culinários também podem ser classificados segundo yin e yang: cozinhar no forno será uma preparação yang, salada crua um método yin.
A lista seguinte exemplifica estilos culinários de yang para yin. Quanto mais tempo cozinharmos os alimentos mais yang eles se tornam.
YANG
Cozinhar no forno
Cozinhar na panela de pressão
Estufados e Guisados
Saltear muito tempo
Sopas cozinhadas muito tempo
Cozer em chama baixa
Fritar
Saltear duma forma rápida
Cozinhar no vapor
Escaldar ou ferver rapidamente
Salada crua
YIN
Os alimentos podem também ser tornados mais yin ou yang de acordo com o tipo de temperos utilizados:
YANG
Sal
Miso (pasta de soja)
Shoyu (molho de soja natural)
Gengibre
Alho
Vinagres naturais – de arroz ou maçã
Adoçantes naturais – malte de cevada, malte de arroz e outros
Sumos de frutos
YIN
A actividade física e os exercícios respiratórios são também uma boa forma de “yinizar” ou “yangizar”. Correr ou ginástica aeróbica são práticas mais yang, ficarmos deitados no sofá a ver televisão é uma prática mais yin. O trabalho é yang, as férias são yin. Consequentemente, se está mais yin necessita de actividades mais vigorosas (difíceis para quem está nesta condição), se está mais yang precisa de aprender a descontrair e a “deixar-se ir” (também muito complicado para alguém muito yang).
É provável que tudo isto lhe pareça um pouco complicado de início; se praticar e se ler alguma literatura existente no mercado sobre o assunto verá que pouco a pouco as peças deste dinâmico puzzle de yin e yang começam pouco a pouco a encaixar umas nas outras.
Desejo-lhe boa sorte e lembre-se que a virtude está, como dizia Confúcio, no caminho do meio.
Leia a continuação deste artigo aqui: Sou Yin ou Yang?