No artigo anterior falei sobre a sustentabilidade – sustentare – e, através do texto que se segue, pretendo complementar esse tema, escrevendo sobre a diferença entre alimento e produto alimentar.
O impacto na saúde e no meio ambiente é enorme quando escolhemos ou seleccionamos os alimentos ou os produtos alimentares.
Hoje em dia, de forma quase inconsciente, existe uma dualidade permanente quando “procuramos” alimentos: os que nos satisfazem ou os que nos alimentam? Escolhemos ou seleccionamos os alimentos?
Alimentar(mo-nos) é uma necessidade básica, seja realizada individualmente ou em grupo.
Seleccionar é uma batalha “quase silenciosa” mas que requer sentido crítico, conhecimento, interesse, cuidado, respeito e sabedoria, de e em cada um de nós.
Esta “batalha” é, e continuará a ser, um grande desafio pela publicidade e marketing que, hoje em dia, tem um enorme impacto na área da economia, da produção e do consumo, na sociedade. Esta área (publicidade e marketing) pretende actuar de forma assertiva, objectiva, para garantir ganhos, lucros e consumidores fiés. Os produtos alimentares têm de persuadir e atrair o target pretendido – consumidores para “toda a vida” e de gerações.
Já o alimento é a base para a saúde, bem-estar físico e mental, para o desenvolvimento, crescimento e prevenção – da saúde e da natureza.
O alimento, alimenta, nutre, previne. É simples, assim!
O alimento deverá ser seleccionado consoante a necessidade, a região, a estação do ano, de forma consciente e focada, de cada indivíduo. Pois, seleccionar os alimentos contribui para uma sociedade mais equilibrada e harmoniosa.
Como refere um cientista social francês, Claude Fischler*: “A socialização alimentar começa na infância, através da família, onde o bébe é progressivamente estimulado a experimentar alimentos dentro da cadeia alimentar da cultura na qual está inserido (…). Esta socialização é contínua e nela podem colaborar factores como a propaganda, os media, os profissionais, as instituições do estado, os movimentos ideológicos e religiosos.”.
Assim, pode-se dizer que os alimentos são a ligação mais primitiva e um dos principais pilares entre o ser-humano e a natureza – uma necessidade mútua, uma raíz fundamental, para a troca de sinergias entre os dois “mundos”. Os hábitos e as rotinas alimentares demonstram que: o que se come e como se come define e caracteriza o ser-humano. No alimento encontramos a essência.
Que comecemos hoje com um simples passo: seleccionar o que nos alimenta!
*Cientista, Diretor e Investigador do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica.
Responsável pelo Institut Interdisciplinaire d’Anthropologie du Contemporain.