Quantas vezes ouviu dizer que comer vegetais é muito importante para uma boa saúde? E segue este bom conselho ou não?
Bem, na minha prática diária de consultor alimentar numa grande cidade como Lisboa sempre que menciono a importância dos vegetais a maioria das pessoas responde -“vegetais como todos os dias na sopa e também costumo comer salada de alface”; os mais jovens arriscam: “bem, costumo comer batatas fritas (quase sempre de pacote) e salada de tomate, às vezes ketchup”. Em contrapartida, quando viajo pela província, “couves, nabos, cenouras” são ainda para muitos sinónimo de alimento diário, muitas vezes cultivado num pequeno jardim, contíguo à casa onde habitam.
A verdade é que o hábito de comer legumes diariamente e a cada refeição vem-se perdendo cada vez mais, ao mesmo tempo que um número crescente de estudos científicos enfatiza a importância destes alimentos na prevenção e mesmo terapia da maioria das doenças degenerativas modernas.
Nos últimos dois artigos escrevi sobre a importância dos cereais integrais e expliquei que os mesmos foram a base alimentar de todos os povos do planeta; bem, os vegetais sempre acompanharam os cereais e foram utilizados como alimento secundário (não que secundário signifique de menor importância, mas tão só ingeridos em menor quantidade, por razões climáticas, geográficas e outras).
Devemos utilizar no prato os mais diversos legumes e no caso concreto de Portugal temos uma extraordinária variedade à nossa disposição: cenouras, cebolas, nabos, rabanetes, rábanos, couve-flor, brócolos, abóbora, couve lombarda, nabiças, grelos, couve portuguesa e tantos outros preciosos legumes que fizeram parte integrante da nossa culinária durante séculos.
Os vegetais que actualmente são mais utilizados, o tomate e a batata, não são oriundos do nosso clima e se comidos em grande quantidade podem contribuir para alguns problemas como artrite, doenças de pele, problemas digestivos, problemas renais. Os tomates, as batatas, mas também os pimentos (verdes e vermelhos), beringela, pimenta, pertencem à famílias das solanáceas e são relativamente tóxicos, o que vem sendo confirmado por cada vez mais estudos; o Dr. Norman Childers no seu livro “Nightshades and Health” (As Solanáceas e a Saúde) reporta que o consumo regular de tomates, batatas e beringela é a causa primária de artrite e que em muitos pacientes que sofrem desta incapacitante doença quando se retiram estes alimentos da alimentação diária os sintomas de artrite desaparecem em poucas semanas.
Assim sendo, sugiro-lhe que reduza o consumo destes vegetais e que os utilize apenas em situações especiais; se tiver problemas sérios de saúde, o melhor é talvez eliminá-los completamente do seu regime alimentar durante algum tempo.
Quanto a todos os outros, comece já hoje a encher o seu prato com eles: não só a refeição ficará muito mais colorida, como ainda mais importante, isso lhe trará enormes benefícios à sua saúde.
Para tirar um maior benefício dos legumes aqui vão alguns conselhos importantes:
Sempre que possível compre vegetais de origem biológica (cultivados sem produtos químicos) ou adquira-os em mercados pequenos, evitando de uma forma geral os vegetais de supermercado. A quantidade de pesticidas e herbicidas utilizados nos legumes modernos é assustadora e prejudica seriamente a saúde humana e a dos solos, contribuindo para um grande número de problemas ecológicos. Sabia que em apenas quarenta anos a contagem de espermatozóides em estudantes universitários baixou cerca de 40% e que muitos estudos apontam como causa directa para esta situação o uso de produtos químicos na agricultura moderna?
Não retire a casca a legumes como a cenoura, nabo, rabanete, etc. : lave-os com uma escova de vegetais disponível no mercado de produtos naturais; quanto a vegetais como o agrião, a alface, couves, não os deixe dentro de água para os lavar mas passe-os somente rapidamente por água fria.
Corte os vegetais de formas diferente e artísticas: consulte livros de cozinha especializados ou melhor ainda, frequente aulas de cozinha de forma a aprender estilos de corte lindíssimos que enriquecem grandemente o aspecto estético da refeição e melhoram também a digestão e absorção dos alimentos.
Em todas as refeições, utilize legumes bem cozinhados e outros levemente cozinhados; os vegetais mais cozinhados fornecem energia e vitalidade enquanto que os levemente cozinhados fornecem frescura e ajudam a adquirir flexibilidade – neste caso não os cozinhe mais do que um minuto, de forma a que eles mantenham uma cor viva e um aspecto estaladiço. Um mau hábito existente em Portugal é de cozinhar excessivamente os vegetais, de forma a que eles percam todo o brilho e fiquem desprovidos de vitamina C.
Coma uma boa variedade de vegetais de raiz – cenouras, nabos, rábanos, bardana, rabanete, vegetais redondos – abóbora, brócolos, couve-flor, couve lombarda, e vegetais de folha – grelos, couve portuguesa, agriões, nabiças. Os vegetais de raiz fornecem vitalidade e melhoram o funcionamento dos órgãos inferiores do corpo como os intestinos ou os órgãos reprodutores, os vegetais redondos tornam-nos mais calmos e beneficiam órgãos como o estômago, o baço ou o pâncreas e os vegetais de folha fornecem frescura e flexibilidade e activam os pulmões, coração e fígado.
Bem, espero que este meu artigo o inspire para começar a cozinhar estes fantásticos alimentos todos os dias; no próximo artigo escreverei sobre os principais vegetais disponíveis e as suas propriedades.
Até lá, bom apetite.
VEGETAIS – 2ª PARTE
No último artigo mencionei a importância de comermos regularmente e a todas as refeições vegetais, alimentos essenciais para a manutenção e recuperação da saúde, dado o seu teor em hidratos de carbono complexos, fibra e vitaminas.
Passo agora a mencionar as qualidades de alguns dos principais legumes utilizados em Portugal, de forma a poder tirar um melhor partido destes maravilhosos alimentos. Lembre-se de que deve variar os métodos culinários para que a alimentação não se torne monótona e possa aproveitar ao máximo as propriedades de cada um deles.
Os vegetais podem ser cozinhados no vapor, cozidos, escaldados, cozinhados sem água, salteados de uma forma rápida, salteados de uma forma lenta, estufados, assados, comidos sob a forma de salada crua, salada prensada, sob a forma de “pickles”: Não devem de uma forma geral ser cozinhados na pressão, a não ser que sejam combinados com alimentos como leguminosas ou cereais.
Cenouras
São um dos vegetais mais ricos e saborosos de que dispomos – as cenouras são antidiarreicas, remineralizantes e diuréticas.
Como diziam as avós, são também boas para os olhos uma vez que possuem uma grande quantidade de betacaroteno (ou provitamina A) que desempenha funções essenciais no mecanismo da visão.
Para além disso, ajudam a combater casos de anemia, infecções de bexiga e de cálculos renais ou biliares; acalmam também as dores de estômago e o excesso de acidez estomacal.
A cenoura pode ser utilizada em pratos de vegetais, sopas, crua (neste caso, é mais digerível se for ralada), em sumos ou em chás.
Agrião
Estimula o apetite, activa o metabolismo; favorece a expectoração e descongestiona o aparelho respiratório.
Na Medicina Chinesa o agrião era considerado com um excelente tónico para o fígado e pulmões.
É preferível consumi-lo levemente cozinhado (1/2 a 1 minuto) do que cru, em particular se o agrião não for de origem biológica (cultivado sem produtos químicos).
Rabanete
O rabanete é um excelente descongestionante do fígado e da vesícula; para além disso é um vegetal valioso no caso de afecções respiratórias e particularmente benéfico no tratamento da sinusite.
Pode utilizá-lo ralado (óptimo para ajudar a dissolver gordura e portanto aconselhado em conjunto com alimentos mais oleosos como fritos) ou cozinhado. De manhã, em jejum, desintoxica e descongestiona o fígado.
Cebolas
As cebolas cozinhadas são muito boas para acalmar o sistema nervoso (em casos de nervosismo, irritabilidade, etc.); ajudam também a aliviar as dores musculares, sendo portanto apropriadas para pessoas que desenvolvem um trabalho físico intenso.
O chá preparado a parir das cascas de cebola fervidas é excelente para tosses, particularmente em crianças.
Couve lombarda
Quando levemente escaldada é um óptimo tónico para abrir o apetite.
Tem também acções benéficas sobre o estômago e pâncreas, sendo particularmente indicada para casos de diabetes ou hipoglicemia.
Alho
Comido cru, funciona como vermífugo (elimina parasitas intestinais) e aumenta a vitalidade. Pessoas com um comportamento muito irritável ou instável devem utilizar alho muito ocasionalmente, pois este tende a aumentar estas tendências; nessas situações deve apenas ser utilizado como condimento, e preferivelmente cozinhado.
Cru ou cozinhado, tem sido reconhecido ao alho, desde a Antiguidade, tanto no Ocidente como no Oriente, uma série de propriedades medicinais bastante extensas das quais cito:
Qualidades hipotensoras: o alho provoca uma baixa da tensão arterial, devido aos seus efeitos vasodilatadores.
Fluidifica o sangue: O alho é um antiagregante plaquetário, tornando o sangue mais fluido, sendo portanto indicado para todas as pessoas com tendência para problemas cardiovasculares. Diminui também os níveis de colesterol no sangue, particularmente o LDL (chamado de mau colesterol).
Efeitos hipoglicemiantes: Normaliza os níveis de açúcar no sangue, sendo um excelente preventivo para a diabetes e um bom tratamento para a mesma.
Qualidades antibióticas anti-sépticas: Após muitos estudos realizados, sabe-se que o alho desempenha funções antibióticas importantes, em especial na presença de organismos como: “escherichia coli”, “salmonela typhi”, “shigella dysenteriae”, estafilococos e estreptococos, diversos fungos e leveduras.
Desintoxicante e descongestionante do fígado: Em pequenas quantidades, tem efeitos benéficos sobre o fígado.
Abóbora
Tal como a cenoura ( e vegetais como a beterraba, a couve de bruxelas, a salsa, acelgas, espinafre) a abóbora fornece betacaroteno, uma substância que se converte em vitamina A no organismo; para além disso é um dos legumes com mais hidratos de carbono complexos, sendo ideal para pessoas que necessitem de despender muito esforço físico. Os orientais usam há séculos a abóbora para tratar problemas de estômago, pâncreas, baço e sistema linfático.
Pepino
Um vegetal a ser usado mais no Verão, o pepino é benéfico para alguns problemas de estômago e é um bom diurético. O sumo de pepino tem sido tradicionalmente utilizado para tratar borbulhas (aplicado localmente).
Deixo-lhe de seguida uma bebida preparada a partir de vegetais, que é particularmente benéfica para tratar a hipoglicemia (níveis de açúcar baixos, uma condição que afecta um grande número de pessoas); pode beber este caldo sempre que se sinta cansado, tonto, irritado, com desejo de doces, ansioso, com sono excessivo ou deprimido – sintomas que na maioria dos casos revelam uma condição hipoglicémica.
Caldo de Vegetais Doces
Ingredientes:
½ chávena de cebolas
½ chávena de cenouras
½ chávena de couve lombarda
½ chávena de abóbora
4 – 6 chávenas de água da fonte
Preparação:
Corte em pedaços pequenos cenouras, cebolas, abóbora e couve.
Ponha a água a ferver.
Adicione os vegetais à água a ferver e cozinhe durante 2 a 3 minutos.
Reduza a chama para o mínimo, tape e ferva em chama baixa durante cerca de 20 minutos.
Coe os vegetais.
Beba morno ou quente.
Pode guardar este caldo no frigorífico mas é preferível reaquecê-lo antes de o beber.
No próximo artigo escreverei sobre alimentos proteicos de origem vegetal.