Seguramente que já reflectiu sobre a importância de comer bem (estou a falar em qualidade, não quantidade) e já várias vezes pensou em alterar os seus hábitos alimentares – mas será que pensou muito, muito a sério nas implicações profundas dos alimentos na nossa saúde e bem estar?
Pois bem, a história é a seguinte: sem nos alimentarmos a nossa vida não é possível (se quer descobrir o verdadeiro poder da comida, experimente passar um ou dois dias sem comer nada), o que comemos transforma-se no sangue, sangue esse que vai nutrir todas as células, órgãos e sistemas do corpo, incluindo o cérebro e o sistema nervoso – pois é, a nossa alimentação, influencia também a forma como actuamos, a percepção do Mundo à nossa volta.
Concerteza que lhe é fácil perceber que a ingestão de drogas, álcool, café alteram a visão que temos do ambiente circundante – isso acontece porque estas substâncias modificam a estrutura química do sangue muito rapidamente; o que comemos faz precisamente o mesmo, só que na maioria dos casos mais lentamente. Os alimentos que escolhemos ingerir não apenas influenciam a saúde dos órgãos, mas determinam em grande parte a forma como pensamos e reagimos, um facto frequentemente negligenciado pelas ciências do comportamento.
A partir de agora, passarei a escrever regularmente para a Xis sobre todo o tipo de assuntos relacionados com a alimentação; desejo tanto quanto possível, ajudar os leitores a fazerem escolhas mais conscientes sobre como comer e a aprenderem a distinguir alimentos melhores ou não tão bons, a definir critérios de selecção alimentares que melhorem a sua vida.
Porque na realidade, nós somos literalmente o que comemos e muitas vezes a resposta às nossas perguntas está mesmo por baixo do nosso nariz, três vezes (pelo menos) por dia.
Mas se o que comemos é importante, a forma como o fazemos é provavelmente ainda mais importante, pelo que decidi escrever este primeiro artigo sobre regras alimentares que o ajudarão imenso, independentemente até daquilo que escolha como alimentos.
Imagine o seguinte cenário: Senta-se calma e confortavelmente à mesa com a família ou amigos e servem-lhe uma sopa quente que come com calma, pousando a colher entre cada colherada à medida que vai falando e ouvindo; a seguir come o prato principal com a mesma calma, mastigando cuidadosamente os alimentos, talvez com uma música ambiente suave, apreciando os diferentes sabores, texturas e cores de cada alimento. No final bebe um chá, conversa mais um pouco e vai então trabalhar ou ouvir as notícias da noite.
Imagine agora outra cena: acorda de manhã cansado e mal disposto, engole uma chávena de café enquanto veste o casaco porque já está atrasado para o emprego, antes de ir trabalhar come apressadamente uma sandes ou um bolo e à hora de almoço com os escassos 60 minutos que tem para almoçar decide comer de pé no bar da esquina um bitoque acompanhado de um café duplo para ajudar a digestão. À noite chega a casa estoirado e cozinha no microondas uma refeição rápida que come acompanhado do seu cônjuge, igualmente cansado, enquanto vê as trágicas notícias da noite na televisão com o som altíssimo.
Não acha que o primeiro cenário é muito mais conducente a uma vida saudável? E será que não é possível melhorar substancialmente a qualidade da sua vida se tiver em consideração alguns aspectos importantes?
Sugiro-lhe então as seguintes recomendações:
Coma sempre sentado e nunca de pé, zangado ou a correr – o sistema digestivo humano ao contrário do de outros animais tem uma estrutura em que é necessário estar sentado para os órgãos digestivos descontraírem e digerirem adequadamente a comida. Corte com o hábito de comer de pé e aprenda a apreciar as refeições sentado e com as costas direitas.
Mastigue bem, pelo menos 30 vezes cada garfada; se quer exercitar os maxilares e adquirir uma calma imensa, mastigue muito mais do que isso. Uma das regras para se mastigar bem é começar calmamente com a primeira garfada – se assim o fizer a tendência é das restantes se manterem ao mesmo ritmo. Ao mastigarmos os alimentos a digestão processa-se muito melhor: ao misturarmos os alimentos com saliva estes tornam-se mais saborosos, digeríveis e assimiláveis. Os orientais dizem também que a saliva e mastigação fornecem aos alimentos mais energia vital, ki ou chi.
Não coma duas ou preferivelmente três horas antes de dormir; quando comemos antes de dormir, o sono não é tão reparador, é mais fácil aumentar de peso, o sistema digestivo é afectado e o fígado não consegue executar tão bem as suas funções de desintoxicação. Faça a experiência de não comer antes de dormir durante uma semana e sinta a diferença no sono e quando se levanta de manhã. Se tem tendência para acordar cansado, esta é uma prática a levar à letra.
Coma refeições regulares e completas, pelo menos 2, preferivelmente 3 por dia; o hábito de passar o dia a depenicar, sem comer nenhuma verdadeira refeição é um mau hábito – sobrecarrega o sistema digestivo, afecta o metabolismo de açúcar, contribui para a obesidade. Tente comer refeições completas, não apenas uma sandes e um galão para o almoço, com um chocolate a meio da tarde.
As quatro sugestões acima mencionadas são seguramente fáceis de implementar se quiser; comece a ter consciência do quão importante, eu diria mesmo sagrado, é alimentarmo-nos como deve ser. Respeite os alimentos que leva à boca, considere o trabalho que deu, desde a produção até à confecção, cada uma das refeições que diariamente come. Se o fizer, não só começa a desenvolver uma atitude mais ecológica como o seu corpo começa a vibrar melhor.
Bom apetite!
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