Estação Inverno/Energia Água – Abraçar o medo
Artigo 7 – Janeiro
E entramos em 2024, dando continuidade ao artigo de Dezembro de 2023, com o tema das Emoções.
Ao explorar as emoções pretendo partilhar, despertar questões interiores, abrir espaço à reflexão e dar a conhecer um pouco mais sobre as mesmas. Nos próximos artigos, forcar-me-ei nas emoções que se relacionam com as estações do ano. Apesar de haver várias emoções, haver nuances e outros estádios emocionais, as estações do ano têm emoções específicas com as quais se correlacionam.
Mergulhar neste entendimento, entre emoções-estações do ano, é mais uma forma de (auto)conhecimento, é consciência e acrescenta valor ao nosso ser. É uma oportunidade para trabalhar a mente, o espírito e o físico.
Para contextualizar, e transcrito do artigo anterior, a Emoção terá origem no latim e-movere que significa “e – para fora” e “movere – mover” e provoca uma re-acção, um movimento de dentro para fora permitindo uma mudança.
Quanto às estações do ano, numa visão macrobiótica, identificam-se 5, sendo cíclicas e dinâmicas, e o seu entendimento é fundamental para o nosso crescimento e desenvolvimento, interiores.
De seguida, exploremos os dois pontos principais deste artigo, analisando, respectivamente: Estação do Ano – Inverno/Energia Água e Emoção – Medo.
A Água é o princípio fundamental da vida. É a substância base e nutritiva onde se encontra o ambiente equilibrado para gerar e desenvolver a vida. A água é essencial à vida – Planeta Terra e Ser-Humano são compostos, maioritariamente, por água. A água armazena energia, move-se sem esforço, flui e facilmente se adapta à forma. Contudo, existe um outro lado, a água mais profunda, como um oceano, que se liga à escuridão, à quietude e silêncio penetrantes, à solidão. E são estes opostos, estas características, que se complementam e são essenciais ao equilíbrio.
A energia água, associada aos Rins/Bexiga (o par de órgãos desta estação do Inverno), tem esta conexão com a força de vontade, com a iniciativa, ambição, dos objectivos, dos projectos, do propósito, traçado pelo indivíduo. Se a energia se debilita, desequilibra ou esgota, surge a estagnação. Assim como na natureza: águas paradas, águas estagnadas.
O medo. Medo – e como gosto de explorar a origem das palavras – vem do latim metus e do grego phobos (fobia). Medo e fobia estão interligados, uma vez que o medo, de forma descontrolada, no seu extremo, leva à fobia: a incapacidade de agir, de se mover; é um medo paralisante.
O medo ganha a sua importância ao entendermos o seu papel, a sua função na (nossa) vida. O espaço e a área que ele ocupa dentro de cada um. Entender esta emoção é aceitar que esta faz parte do processo evolutivo e de sobrevivência. Nos tempos primitivos, o medo levava à tomada de uma decisão, de uma mudança; da acção-reacção: lutar ou fugir, em prol da sobrevivência, individual ou de grupo; a sobrevivência da espécie. (Então, não seria errado dizer que também existimos porque o medo existe?!).
Confrontar o medo pode levar a duas reacções opostas (tal como escrevi em relação à energia água): enfrentar esse medo de forma a superá-lo, mudando a atitude que paralisa, para uma atitude de acção. Ou ter pavor, fobia, ao ponto de não reagir, contrair-se em si mesmo, anular, inibir e não permitir a mudança.
Dentro deste contexto é curioso acrescentar que, em momentos de medo, stress, há quem procure adrenalina num desporto radical, por exemplo. A adrenalina é a hormona libertada pelas glândulas supra-renais. As supra renais encontram-se acopladas na parte de cima dos rins – em forma de um pequenino chapéu (como eu costumo chamar). Este é “só” mais um ponto em comum entre o nosso organismo (a nossa natureza interna) e o ambiente envolvente, (a natureza externa), que nos abraça e nos dá vida. Não é muito difícil de entender esta simbiose e troca de energias, únicas e especiais! Os pontos conectam-se!
De uma forma geral, o início do ano chega com o sentimento de “Ano Novo, Vida Nova!”. Uma altura que, geralmente, se associa a novas rotinas, novos hábitos, transformar e libertar o que não interessa, deixar ir o “antigo”, abraçar o novo. Altura de mudanças e de querer fazer, mudar; mudar, fazer. Contudo, no entendimento e na visão holística, integrada no conhecimento da Macrobiótica, este período tem precisamente a energia oposta. Ao olhar em volta, observando a Natureza, não há ciclos a iniciar, não há grandes mudanças. Há mais silêncio. Há animais que hibernam, outros migram, para zonas mais quentes, à menos disponibilidade de alimento, pois já houve o tempo da recolha e agora nutre-se com o que se tem; com o que foi possível armazenar, e o conceito de armazenar é com o intuito de não dissipar a energia, conservando-a e canalizando-a para o essencial.
É um período em que, nos pilares da vida (outro tema que explorei anteriormente), o exercício físico extenuante drena energia/calor, internos. O exercício no Inverno deve estar mais relacionado com a meditação, o yoga, o pilates, o chi kung, tai chi e caminhadas (não muito longas). Estas são oportunidades para nos movermos. Dar movimento ao corpo físico; movimento adequado, que oriente a energia a nosso favor e não a disperse. Ou, noutro pilar, como a alimentação, optar por confecções mais lentas, refeições mais aconchegantes e quentes, pratos mais reconfortantes, como as sopas. O cuidar e focar a energia interna, para nutrir o sangue, canalizando força e potência, para o centro, para os órgãos (onde, curiosamente, e não por acaso, se encontram as “baterias” chamadas rins, que filtram o líquido, a água, chamada de sangue). Por último, e não menos importante, ter atenção e respeitar as horas de sono/descanso. Deste modo, estamos a investir tempo, dar qualidade, à saúde mental, física e espiritual. Este período precisa de toda a nossa atenção, foco e potencial, interiores.
De forma a concluir, e poder integrar o que foi partilhado, pode-se dizer que no Inverno o tempo é propício ao armazenamento e preservação da energia. Caso contrário, a energia pode escassear, extinguir, e a força de vontade, o ânimo, pela vida, serão comprometidos, reduzindo muito as (re)acções emocionais, físicas, mentais. Com pouca energia interna, com estagnação, com bloqueios na energia vital (Ki), há comprometimento na qualidade do sangue, no funcionamento do organismo, com as estruturas e os órgãos.
No Inverno há a possibilidade de integrar a morte; a morte como passagem*,* para (re)nascer na Primavera. Que haja espaço e tempo para essa passagem, para a reflexão, para a introspecção, para abraçar o medo saudável, com força de vontade, com propósito.
A Primavera, por sua vez, trará a emoção do renascimento, do germinar, do brotar, a emoção considerada a filha do medo: a raiva (associado ao elemento Árvore/Madeira e par de órgãos Fígado/Vesícula). A fase da criança/adolescente aproximasse. O que se reflectiu e aprofundou no Inverno germinará e trará os frutos, por isso, há que ter sapiência na forma como se consegue canalizar e integrar a energia interna, no Inverno. O Inverno encerra um ciclo mas abre espaço ao nascimento, na Primavera! O quão maravilhoso e potente isto é!?
Crónica Ana Reis