Respirar é o que nos traz vida para o interior e nos conecta com o Mundo exterior.
Artigo 10
O acto de respirar tem várias formas de se percepcionar. Esta acção ocorre através dos pulmões, de forma estruturada e organizada, efectuando dois movimentos: inspiração e expiração.
Há uma coordenação e interação entre mecanismos que garantem a entrada de oxigénio e a saída de dióxido de carbono e o principal músculo que permite estes movimentos é o diafragma.
A origem da palavra diafragma vem do grego dia-phragma: dia – através, e phragma – separação, parede, divisão. E o diafragma é um músculo estriado, que tem todo o diâmetro do tronco, que separa a zona torácica da zona abdominal.
Respirar desencadeia um processo fabuloso que depende de um outro músculo, um outro órgão, muito importante para o sucesso deste evento: o coração.
O coração desempenha um papel fundamental. Ele é A bomba!De uma forma simples, o coração, bombeia o sangue venoso (rico em dióxido de carbono) até aos pulmões. Aqui o sangue recebe o oxigénio e, agora com sangue arterial (rico em oxigénio), segue, novamente, ao coração para ser bombeado para todo o corpo.
A libertação do dióxido de carbono acontece como resultado do árduo e inteligente trabalho das células do nosso corpo. Quanto mais trabalham mais dióxido de carbono as células libertam e este gás é tóxico, é nocivo ao nosso organismo. Assim, a entrada de oxigénio é crucial para o bom desempenho de toda a mecânica celular!
O fascinante mundo da respiração “passa-nos” ao lado. A dinâmica da respiração – uma orquestra bem coordenada – acontece, sem que tenhamos, propriamente consciência disso. O acto de respirar é simples, é-nos natural.
E talvez seja por isso que não damos a devida importância, atenção, cuidado, a este acto vital.
A respiração é primitiva.
A respiração é vida.
A respiração acontece desde que se gera a vida dentro do útero.
Neste ambiente aquático, dentro da bolsa de água, respiramos através do cordão umbilical, graças a outra vida que nos conecta com o exterior: a nossa mãe. E a nossa mãe tem um papel essencial em nos guiar na respiração; em nos trazer vida e alimentar a consciência para este acto vital.
Quando nascemos o cordão umbilical, o canal da conexão com o exterior, é “quebrado”. A respiração passa a ser, agora, responsabilidade nossa. E percebemos isso, instintivamente, quando transitamos entre meios: meio aquático para o meio aéreo. É um choque brutal, a qualquer nível! É um grito de libertação, ao mesmo tempo!
Esse grito que se faz soar liberta as vias que canalizam a energia do ar – as vias aéreas.
O oxigénio que agora entra é comandado por nós, até aos pulmões.
A coordenação interna, no organismo, passa a ser um compromisso vital, único, pessoal, entre nós, entre mundos – interno e externo, para toda a vida!
Em recém-nascidos o diafragma desempenha um papel importante para o bom funcionamento intestinal.
Com os movimentos da respiração – movimento diafragmático – favorece-se os movimentos intestinais – movimentos peristálticos.
Esta sincronia, esta “massagem” interna, além de permitir uma boa e adequada respiração também cuida e conserva a vitalidade interna do organismo, fundamental ao bom funcionamento do sistema imunitário.
Numa perspectiva oriental, dentro do conceito da Macrobiótica, o Pulmão canaliza, orienta, conduz, a Energia Vital, a Energia Chi. Deste modo a energia do Pulmão também “comanda” a energia do sangue através das trocas gasosas.
As trocas gasosas purificam o sangue; purificam os líquidos do corpo e, por consequência, estas dinâmicas influenciam as emoções.
A par com o pulmão, está o intestino grosso.
Este é o par de órgãos que cuida do nosso sistema imunitário. São a separação, phragmas, entre interior e exterior, eliminando o que interessa ou não, ao nosso organismo. Estes órgãos fragmentam, seleccionam, para o bom equilíbrio e vitalidade do corpo.
Transcrevo o que a admirável Professora Natália Rodrigues partilha no seu livro Cozinhar com a Natália e que explica bem esta conexão entre o par de órgãos Pulmão/Intestino Grosso com as emoções:
Ao expelir o ar impuro e material fecal, o pulmão e intestino grosso eliminam do nosso corpo aquilo de que ele já não necessita. Esta função, mantém o corpo oxigenado e sem toxinas e contribui, ao nível emocional, para que tenhamos uma melhor capacidade de distinguir o que tem utilidade na nossa vida e o que já não nos serve.
Dependemos, a vários níveis, da forma como respiramos.A respiração é um tema muito interessante e que me fascina.
No próximo artigo há mais a partilhar sobre este acto vital.
Por agora, deixo-vos com as seguintes questões:
E vocês, já respiraram hoje?
Fazem pausas (basta 1 minuto) para se conectarem à respiração, ao longo do dia?
Como caracterizam a vossa respiração?
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal