Artigo 11
No seguimento do artigo anterior “Respiração – parte I” partilho um pouco mais sobre este acto vital que pode ser explorado nas suas várias vertentes. É um acto simples mas que integra vários processos, influenciando vários sistemas internos.
O mecanismo da respiração vai além da “simples” inspiração e expiração, como já descrevi. Desta forma, há uma relação entre dois pontos que acho interessante analisar e explorar neste artigo. São pontos energéticos, pontos de referência, de ligação e conexão, entre interior e exterior – seja no ambiente intra-uterino (ambiente aquático), seja no ambiente exterior, (ambiente terrestre).
São eles: nariz/boca (considerando-os como 1 ponto só) e o umbigo.
Num ambiente intra-uterino, através do cordão umbilical, o bébe alimenta-se, respira, percepciona o ambiente, o mundo. O bébe cria os próprios ritmos e dinâmicas através do cordão, que se conecta à mãe.
Depois de nascer existe “a separação”, há o corte do cordão umbilical. Passa a ser responsabilidade sua, do bébe, em manter a conexão com o mundo.
Quem o rodeia, no momento do nascimento, aguarda “o grito” que transmite vitalidade. Este pequenino ser partilha o que acabou de experienciar, enchendo os pulmões de ar. Passará a depender deste órgão para a vida.
A respiração do bébe, é, agora, autónoma em relação à mãe. Nariz/boca são a entrada de oxigénio e alimento, no momento presente e o umbigo a cicatriz, que o lembrará para sempre que ‘aquele’ é um ponto raíz, através do qual se alimentou, nutriu, que lhe deu vida, ao longo de uma gestação.
Com o crescimento e o desenvolvimento do bébe a distância entre umbigo e nariz/boca aumenta.
Com este afastamento perde-se também, aos poucos, a consciência em cuidar destes canais vitais. Há uma desresponsabilização, determinada por variados factores, que irá comprometer a qualidade de vida e, por conseguinte, a vitalidade interna.
Contudo, ao longo da vida há circunstâncias, momentos, em que sentimos a necessidade em nos (re)centrar, (re)conectar à vida, em resgatar a ligação à raíz – ao centro, ao core. Esta necessidade em conectar, novamente dois pontos, agora distantes fisicamente, exige um trabalho mais profundo. Um trabalho de auto-consciência e de auto-conhecimento.
Transpondo o que partilho, para algo mais pessoal, para o meu ambiente de trabalho, como as aulas de Pilates, posso afirmar que são raros os alunos que sabem respirar activando o core, activando o abdómen, por exemplo.
A respiração, com activação do abdómen, é extremamente importante pela referência ao nosso estágio inicial de desenvolvimento, enquanto ser-humano. Nesta prática da respiração, em contexto aula, a referência é a activação do abdómen durante os exercícios específicos de respiração, que se tornará extremamente importante para, posteriormente, se realizarem dos exercícios/posturas no decorrer da aula.
A activação da musculatura do abdómen permite trazer o foco, a conexão, à zona do core, do umbigo, outrora passagem de vida! E, em contexto aula, faz toda a diferença para o desempenho do aluno.
São raros os alunos que conhecem esta respiração, que consigam fazê-lo nos primeiros desafios colocados em aula. Há quem leve meses para entender, para se conectar.
A respiração primordial, primitiva, essencial, como a respiração através do abdómen, tem de ser mais valorizada e trabalhada.
Resgatar essa respiração tem sido um trabalho diário, nas aulas de Pilates. Os feedbacks positivos, relativamente, a estes tipo de exercícios focados na “simples respiração” abdominal têm trazido bem-estar e cuidado pessoal.
Na realidade, quanto menos foco houver na respiração, mais desconectada, mais desequilibrada é a consciência e a percepção do que nos rodeia. A energia vital mantém-se saudável, eficiente, se houver sintonia, sincronia, entre órgãos, e isso só é possível através deste mecanismo, natural, como a respiração.
Numa visão holística, criar equilíbrio e consciência nos 4 pilares, como a alimentação, o exercício físico, o sono e o lazer, é também um caminho, uma oportunidade, para alimentar a energia vital e (re)aprender a respirar.Dependemos muito da forma como respiramos.
Deixo mais algumas reflexões:
E vocês, já respiraram hoje?
A vossa respiração é mais superior, na zona do tórax ou muito desconectada, trazendo tensão constante aos ombros, ao pescoço, às costas?
Já conheciam a respiração através da activação do abdómen?
As reflexões são importantes para nos confrontarmos com a realidade. As reflexões confrontam-nos com as próprias escolhas, com o estilo de vida que levamos. É uma forma de nos (auto)responsabilizarmos e, assim, encontrarmos oportunidades para mudar ou adaptar, sempre com o foco, acima de tudo, do nosso bem-estar físico, mental e espiritual.
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal