Artigo 16
Na Parte I deste tema “Fim do Verão”, foram descritas características e funções dos órgãos associados a esta fase do ano: Estômago/Baço, Pâncreas.
Estes órgãos estão intimamente conectados às emoções. Ainda que muitas vezes passem despercebidas, há alturas do ano em que determinada emoção é mais evidente, como por exemplo, a alegria no Verão ou o medo no Inverno.
No Fim do Verão há autores que associam 3 emoções/sentimentos diferentes: a preocupação, a reflexão e o nojo.
A preocupação é pré-ocupar a mente com algo que, muitas vezes, ainda não aconteceu. É a antecipação de acontecimentos que se desejam controlar, com o receio de não se ser bem-sucedido, realizado, reconhecido ou aceite.
A preocupação está conectada com a ansiedade. Estes dois ingredientes emocionais, quando combinados e quando em desequilíbrio, afectam e bloqueiam a tomada de decisão, de realização ou de foco. Há uma turbulência de pensamento e pouca clareza.
A reflexão, por sua vez, vem equilibrar todo este turbilhão de emoções, desencadeadas pela preocupação.
Reflectir traz a capacidade de meditar sobre o assunto. Pressupõe um momento de calma – parar para a ponderação. Reflectir, mostra outra perspectiva para a resolução de problemas ou desafios; proporciona uma outra perspectiva de foco. É restabelecer ou reajustar o que apoquenta a mente. Pode dizer-se que reflectir permite que os pés desçam à terra – o que faz a ponte com esta energia de Terra/Solo.O nojo, como se pode ler no livro “Cozinha das Emoções” de Daniela Ricardo: “(…) é a emoção que nos faz aceitar ou não algo. O que querer receber ou rejeitar. (…)A função adaptativa do Nojo é rejeitar qualquer estímulo que possa ser tóxico.”. E acrescento, que é uma sensação que vem do fundo, vem das entranhas – as raízes, o nosso Solo interno, do nosso sistema circulatório – aquele que nutre o sistema imunitário.
A capacidade de clareza, de ponderação, de libertação de pensamentos/sensações tóxicas, é fundamental para que, com os pés assentes na terra, nos possamos conectar com a verdadeira essência e verdade individuais.
As emoções facilmente levam a escolhas alimentares e, no Fim do Verão, é o sabor doce que vem adocicar, equilibrar, esta energia interior.
O doce é uma recompensa. O doce transporta qualquer um para um lugar melhor, para um (re)conforto, para o colo – a sensação maternal, como a mãe terra (o solo) que acolhe e nutre!
É muito fácil, esconder ou camuflar pensamentos, preocupações, através do açúcar refinado, hidratos de carbono vazios (massas de bolos, de pão, esparguete, bolachas, farinhas refinadas…) pois estes dão uma resposta muito mais rápida e imediata. É tão imediato que não há espaço para a reflexão ou ponderação!
O doce, numa visão mais natural, numa visão Macrobiótica, é importante para a estabilidade do baço/pâncreas – sistema circulatório – que irá transportar nutrientes de qualidade. Este sabor doce estabiliza a glicémia, logo, a sensação de saciedade e de conforto prolongam-se no tempo.
Em consonância com a Natureza, existem vários alimentos (que se irão manter no Outono) de sabor doce, como por exemplo: batata doce, cenoura, cebola, abóbora, couve coração, cereais integrais, leguminosas (os feijões). São todos excelentes opções para o equilíbrio, para a harmonia, de todo o organismo.
Estes alimentos, quando integrados numa alimentação mais consciente, abrem espaço para que as escolhas do dia-a-dia sejam mais acertadas e em maior conexão com o bem-estar interior.
E porque esta passagem do tempo quente para o tempo frio não tem de ser um peso ou não tem de assumir uma negação profunda, deixo um excerto de um livro muito interessante chamado “Mesericórdia”, da fantástica escritora Lídia Jorge. O excerto que se segue é uma das partilhas da sua mãe, em relação à casa onde sempre viveu e que agora, a partir do lar que habita, recorda:
“Quando vivia na casa que lá deixei, sempre senti alegria com o Outono. Olhava para os ramos que perdiam as folhas e se despiam atirando-se ao chão, e pensava que era a Natureza a adormecer para um sono reparador. Ela acordaria quando chegasse o mês de Abril, e as novas folhas desabrochariam e as flores viriam com elas. Já nessa altura sentia a alegria mansa que descobri ser essa melancolia.”.
Estamos sempre a tempo de percepcionar novas formas de sentir e acolher a estação que se segue! Que abracemos o Outono!
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal