Artigo 17
Em meados de Setembro, existe um equilíbrio entre as energias Yin e Yang. Isto é, nessa altura do ano existe uma igualdade de forças entre yin e yang, uma vez que, as horas de luz e sem luz mantêm um período idêntico, igual. A este fenómeno dá-se o nome de equinócio – e existe em dois momentos ao longo de 24 meses, no Outono e na Primavera.
Equinócio é composto por aequus – iguale nox – noite, em latim. Isto acontece quando os raios solares incidem, nos dois hemisférios da Terra, com intensidade igual.
O Outono está presente. Caminha-se em direcção ao Inverno.
As temperaturas desceram, os dias estão mais curtos, as árvores mudam de cor ou vão-se despindo ao sabor do tempo, os animais recolhem. São mudanças que existem a vários níveis, entre as duas energias, a interna (a de cada um, a de cada ser) e a externa (a do meio envolvente).
Há menos agitação exterior, há mais recolhimento interior. Aos poucos a calma e serenidade, instalam-se.
Com a estação do Outono a energia encontra-se na fase descendente, cada vez mais yin – que culminará na sua contração máxima quando chegar ao Inverno.
O elemento associado a esta energia outonal é o Metal.
O Metal, com características mais profundas, relaciona-se com o par de órgãos pulmão-intestino grosso. Estes par de órgãos, com funções muito próprias e essenciais, têm agora o seu momento, desempenhando o papel de limpeza, purgação, eliminação e descarte. Uma limpeza mais profunda e essencial, separando o que está a mais e não interessa, do essencial e importante, para o bem-estar vital do organismo.
É, também nesta perspectiva de selecção e de eliminação, que a mente mergulha na reflexão e interiorização, individuais. Questionar projectos, rotinas, reflectir nas escolhas e ponderar no que realmente faz sentido ou não, para a vida pessoal, profissional, familiar, social, etc. Esta selecção mental é, igualmente, importante e fundamental, nesta altura do ano.
Estes confrontos pessoais, sejam físicos, mentais ou espirituais, devem ser aceites, abraçados e entender que são cíclicos.
Nesta fase descendente do ciclo a melancolia e a tristeza co-habitam com a beleza e o encanto. Características opostas mas de grande importância na harmonia e fluidez da vida, principalmente nesta fase do Outono!
Por um lado, a beleza de contemplar a vida, em agradecer, do que se construiu até aqui. Os desafios, projectos, momentos, dos quais se fez parte. O encanto em mudar, alterar e libertar o físico, a mente e o espírito do que pesa e já não interessa. Por outro lado, a tristeza que permite ao ser-humano conectar-se com o seu ser mais profundo. Um recolhimento que dá início a uma viagem, por vezes melancólica e traçada na escuridão, para que depois se vislumbre a luz – um sinal para um novo (re)começo. Um confronto entre a luz e a ausência dela, necessários ao ciclo da vida.
E transcrevendo uma passagem, descrita no livro Regenerar do Professor Lourenço Azevedo, citado do Livro do Imperador Amarelo, cap.II
“Nos três meses do outono, os seres da natureza chegam à sua maturidade. O céu apresenta-se tenso e a terra resplandecente.
(…)
Esta é a harmonia com o chi do outono e este é o método para proteger a sua própria colheita. Opor-se resultará no enfraquecimento dos pulmões (…)”.
Opormo-nos não resulta. É mantermo-nos na escuridão. É estagnar.
Aceitar, agradecer e deixar ir, é cuidar, seguir em frente, deixando o ciclo seguir o seu rumo!
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal