Artigo 18
Janeiro geoso Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso
Em mote provérbio dou seguimento ao artigo anterior, que referia a chegada e a aceitação do Inverno como uma estação importante e crucial para o equilíbrio e bem-estar.
A passagem e mudança entre estações traz associada uma energia específica, uma energia com menos impacto e mais fluida. Brinda-nos com uma subtileza que dá tempo ao tempo para que sejam feitos os ajustes necessários. Adaptarmo-nos previamente, e aos poucos, à próxima estação, influencia directamente o equilíbrio e a harmonia individuais.
A transição entre os meses de Dezembro e de Janeiro (altura do ano em que se comemora a Passagem do Ano), como uma passagem, uma mudança, não tem, na realidade, o mesmo impacto que a transição entre as estações do ano.
As diferenças no meio exterior iniciam-se no solstício de Inverno, a partir do qual os dias começam a aumentar. A energia é diferente, contudo, a grande passagem é mais evidente umas semanas depois, na chamada fase de Luz, em inícios de Fevereiro.
Este momento do ano, o momento da Luz, tem registos ancestrais. Festividades, e celebrações de outros povos que, outrora, davam as boas-vindas aos dias mais luminosos e maiores. Era o novo período de prosperidade e de (re)nascimento, que se avizinhava. A chegada da Primavera estaria para breve. Um período de nutrição e de nascimento, estava a iniciar-se!
Uma dessas festividades era a Procissão das Candeias ou Candelárias (de candeia – vela, luz), originalmente, pagã. De origem Celta – civilização que influenciou a Europa Central através de costumes, rituais ou idioma – vem demonstrar a ancestralidade e a conexão profunda deste povo com a Natureza.
Um dos povos que adoptou a tradição Celta, do ritual das “Candeias”, foram os Romanos, fundindo essa celebração com a religião cristã. E, ainda hoje, existem reminiscências destas festividades em zonas como Lisboa, Viana do Castelo, Soure, Marinha Grande ou Évora, apenas para nomear algumas.
Na era dos Celtas, eram conhecidas como as festas de Imbloc, Imbolg ou Oilmec – as festas realizadas a “meio-caminho” entre o solstício de Inverno e o equinócio da Primavera e davam as boas-vindas ao tempo de luz, do emergir da escuridão, a caminho da clareza. Era a oportunidade para celebrar e agradecer o renascer, com a chegada de tempos mais férteis e mais abundantes.
Também no Oriente se mantêm as comemorações antigas, milenares, da chegada no Novo Ano, neste período, entre o solstício de Inverno e o equinócio da Primavera. Estas festividades orientais carregam, também carregam muito simbolismo.
Na China, por exemplo, a Passagem do Ano realiza-se, tal como as Festas das Candeias, em Fevereiro.
A abundância e a transformação, são representadas através das cores usadas, como o vermelho, cor associada à transformação, movimento e vida. O dragão, como um dos elementos centrais, traz e agoira, sorte e riqueza. O movimento, presente nas coreografias e nas danças, dos desfiles, como energia viva que flui – não estagnada – rumo a um novo ciclo que está para chegar. Assim como, frutas cítricas que simbolizam o recomeço e a sorte.
Todos eles, símbolos de energia em ascenção, de transformação que (re)nasce, brindando um novo período próspero.
Em modo de conclusão, há que continuar a seguir o caminho frio, de Inverno, para que, daqui a umas semanas, possamos entrar com equilíbrio e harmonia, num novo ciclo, num período mais ameno e de luz.
Em Janeiro, agradecemos o que construímos em 2024, a vida que temos vivenciado e experienciado até então. Fazer uma análise e reflexão mais profundas, coaduna-se com o Inverno que ainda se faz sentir.
Há que manter o foco em cuidar, alimentar, nutrir o ser-interior e reforçar os objectivos e projectos que irão florescer na Primavera. Aos poucos, a hibernação vai dando lugar ao despertar. E estar atento a estas pequenas-grandes mudanças ajuda-nos a entender melhor a Natureza (sábia) que nos rodeia!
Crónica Ana Reis- Professora do Instituto Macrobiótico de Portugal